quinta-feira, 27 de março de 2014

terça-feira, 25 de março de 2014

"O gato preto", de Edgar Alan Poe - Conto para o 1º ano do Colégio Promove

Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastante doméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã posso morrer e, por isso, gostaria, hoje, de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Devido a suas conseqüências, tais acontecimentos me aterrorizaram, torturaram e instruíram.

segunda-feira, 24 de março de 2014

“Antes da ponte Rio-Niterói”, de Clarice Lispector - Conto para o nono ano do Colégio CEM

Clarice Lispector  — Retirado do livro de contos A via crucis do corpo

Pois é.

Cujo pai era amante, com seu alfinete de gravata, amante da mulher do médico que tratava da filha, quer dizer, da filha do amante e todos sabiam, e a mulher do médico pendurava uma toalha branca na janela significando que o amante podia entrar. Ou era toalha de cor e ele não entrava.

Mas estou me confundindo toda ou é o caso que é tão enrolado que seu puder vou desenrolar. As realidades dele são inventadas. Peço desculpa porque além de contar os fatos também adivinho e o que adivinho aqui escrevo, escrivã que sou por fatalidade. Eu adivinho a realidade. Mas esta história não é de minha seara. É de safra de quem pode mais que eu, humilde que sou. Pois a filha teve gangrena na perna e tiveram que amputá-la. Essa Jandira, de dezessete anos, fogosa que nem potro novo e de cabelos belos, estava noiva. Mal o noivo viu a figura de muletas, toda alegre, alegria que ele não percebeu que era patética, pois bem, o noivo teve coragem de simplesmente desmanchar sem remorso o noivado, que aleijada ele não queria. Todos, inclusive a mãe sofrida da moça, imploraram ao noivo que fingisse ainda amá-la, o que — diziam-lhe — não era tão penoso porque seria curto prazo: é que a noiva tinha vida a curto prazo.

Conto "Um apólogo", de Machado de Assis - Nono ano do Colégio CEM

Um Apólogo


Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

Conto "Bertram", de Álvares de Azevedo - Para as turmas de 2º ano dos Colégios CEM e Promove


BERTRAM

But why should I for others groan,
When none will sigh for me!
Childe Harold, I. Byron



Um outro conviva se levantou.

Era uma cabeça ruiva, uma tez branca, uma daquelas criaturas fleumáticas que não hesitarão ao tropeçar num cadáver para ter mão de um fim.

Esvaziou o copo cheio de vinho, e com a barba nas mãos alvas, com os olhos de verde-mar fixos, falou:

— Sabeis, uma mulher levou-me a perdição. Foi ela quem me queimou a fronte nas orgias, e desbotou-me os lábios no ardor dos vinhos e na moleza de seus beijos: quem me fez devassar pálido as longas noites de insônia nas mesas do jogo, e na doidice dos abraços convulsos com que ela me apertava o seio! Foi ela, vós o sabeis, quem fez-me num dia ter três duelos com meus três melhores amigos, abrir três túmulos àqueles que mais me amavam na vida — e depois, depois sentir-me só e abandonado no mundo, como a infanticida que matou o seu filho, ou aquele Mouro infeliz junto a sua Desdêmona pálida!

segunda-feira, 17 de março de 2014

Conto para o 2º ano do Colégios CEM e Promove - "Solfieri", de Álvares de Azevedo

Sabeis-lo. Roma é a cidade do fanatismo e da perdição: na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia; no leito da vendida se pendura o crucifixo lívido. É um requintar de gozo blasfemo que mescla o sacrilégio à convulsão do amor, o beijo lascivo à embriaguez da crença

Conto para o 1º ano da Escola Estadual Professor Morais - "Beleza interior", de Carlos Fialho

Ela era linda por dentro. Desde o momento que a conheci, vi logo que era. E pra mim, isso é muito mais importante, sabe? O que a gente tem dentro da gente, a nossa essência, o nosso âmago, a nossa índole, a força de caráter em cada um, a personalidade. Porque tudo é efêmero, finito, passageiro e insignificante, exceto o que a gente leva dentro. Casas podem ruir, carros enferrujam, ou se espatifam em postes e ficam mais amassados que um maracujá, ou que a pele da minha avó, propriedades podem deixar de ser de quem são, dinheiro se acaba. Aliás, eu costumo dizer sempre: dinheiro é papel. O importante é o que tá aqui, ó (e aponto para o coração). As pessoas sempre concordam com isso. É batata. E também ficam enternecidas como se estivessem vendo um daqueles comerciais que passam no Natal. De panetone ou de banco, não importa. E também criam uma empatia comigo sempre que digo isso. Tem sido muito bom pra me socializar melhor com as pessoas, me tornar mais popular, virar um boa praça. Mas não é só fingimento ou atuação canastrona não. Eu realmente acredito nisso e repito com toda a convicção: “Dinheiro é papel. O importante é o que tá aqui ó (mão no coração)”.